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amar o inútil
domingo, 26 de janeiro: "a distância mais curta entre dois pontos pode ser a linha reta, mas é nos caminhos curvos que se encontram as melhores coisas.”
amar o inútil
“a distância mais curta entre dois pontos pode ser a linha reta, mas é nos caminhos curvos que se encontram as melhores coisas.”
Pra entrar no clima da edição de hoje — e começar o dia bem relax —, a música é essa aqui. 🎧
Ciranda de Pedra
FIRST THINGS FIRST
(Imagem: Pinterest)
“Ouça, Virgínia, é preciso amar o inútil. Criar pombos sem pensar em comê-los, plantar roseiras sem pensar em colher as rosas, escrever sem pensar em publicar, fazer coisas assim, sem esperar nada em troca. A distância mais curta entre dois pontos pode ser a linha reta, mas é nos caminhos curvos que se encontram as melhores coisas.”
O trecho faz parte do romance Ciranda de Pedra, escrito em 1954 pela Lygia Fagundes Telles — também conhecida como "a dama da literatura brasileira", que faleceu em 2022, aos 103 anos de idade.
Explorando o universo psicológico de seus personagens, Lygia fazia profundas reflexões sobre as feridas da alma humana.
No trecho destacado, ao dizer que é preciso “amar o inútil”, a autora remete à ação desinteressada, à busca pelo prazer de criar e viver sem a expectativa de recompensa imediata ou utilitária.
A imagem de criar pombos sem pensar em comê-los e plantar roseiras sem esperar colher as rosas nos faz refletir sobre o valor da criação em si, não como algo instrumental, mas como um fim em si mesmo.
Seja um feito na vida profissional, uma demonstração de carinho ou um pedido de desculpas, você consegue se lembrar da última vez que fez alguma coisa sem esperar nada em troca?
Porque se a gente parar pra pensar, a decepção não está atrelada ao que fazemos, mas sim à expectativa que criamos em relação ao nosso objetivo.
Se você escrever um texto pelo simples prazer de escrever, só o fato de colocar as palavras no papel te deixará satisfeito. Da mesma forma, um pedido de desculpas sincero, mesmo se não for aceito, pode trazer paz pro seu coração.
E isso não significa que a gente não deve traçar objetivos. E nem parar de sonhar.
Significa, na verdade, que quando a busca se materializa apenas na recompensa, o propósito acaba ficando pra trás — e a gente se esquece de enxergar a beleza do caminho.
Plante sem pensar em colher, escreva sem pensar em publicar e dê sem pensar em receber. Aos olhos de alguns, isso pode parecer ingenuidade mas, no final do dia, cada um é o que dá e não o que recebe.
Pietá
BASEADO EM UMA HISTÓRIA REAL
(Imagem: VSCO)
Como o momento perfeito e a escrita mais refinada nunca vão chegar, Hannah resolveu compartilhar, com o coração cheio de amor, um pouquinho da sua história preferida.
Essa é a história da Dona Zélia, como ela preferia ser chamada, ou Luiza Maria da Conceição. Para Hannah, sempre foi vovó.
Dona Zélia teve uma vida bem humilde. Cresceu na roça, em uma cidade chamada Conceição, no interior de Minas Gerais. Cercada pelos irmãos, ela ajudava na plantação pra garantir o sustento da família.
Bem novinha, casou-se com o avô da Hannah, Djalma. Juntos, tiveram sete filhos — seis homens e uma mulher.
Como sempre quis ter mais meninas na família, quando Hannah nasceu, Dona Zélia sentiu um carinho especial e imediato. Talvez como a realização tardia do seu antigo desejo.
Quando era criança, Hannah lembra que a sua avó vivia bem no alto de um morro, em frente a uma igreja.
Nessa época, Dona Zélia vestia a neta de anjinho para as celebrações religiosas e sempre a esperava na porta, com o terço na mão — ciente de que, sem sua ajuda, ela o esqueceria.
Sua avó misturava força e doçura de um jeito encantador. Com a risada baixinha e tom de voz suave, ela cultivava uma relação de carinho com todos que entravam na sua vida.
Dona Zélia amava sentar na varanda e puxar conversa com quem passava pela rua. Nunca faltava assunto. Ela gostava de falar de tudo, sempre atenta e sem julgamento.
Gostava também de cuidar das suas flores, sem a intenção de colhê-las. Aguava todos os dias, até quando chovia.
Detalhe: com o regador, que ela precisava encher várias vezes para dar conta da plantação toda. Em suas palavras, “com a mangueira não tinha a mesma graça”.
Nessas aventuras, ela tomou alguns tombos, que custaram alguns dias de repouso. Mas, assim que podia, Dona Zélia já retomava sua rotina.
Gostava (nem sempre) de caminhar de manhã, no tempo dela. Na primeira refeição do dia, não podia faltar leite com café e pão de sal. E ela sempre molhava o pão no café.
À noite, tinha a missa na TV Aparecida, que ela não perdia por nada. Dona Zélia também gostava de pintar as unhas do pé. As da mão ela sempre roía, então falava que não precisava pintar.
Sempre que a Hannah chegava em sua casa, era recebida com um sorriso, queijo e goiabada.
Dona Zélia perguntava várias vezes se ela já havia almoçado. Mesmo quando Hannah respondia que sim, sua avó insistia, desconfiada, e preparava alguma coisinha pra comer.
Ela nunca reclamava de nada. Pra ela, tudo estava sempre bom. Vestia seus vestidos floridos, costurados por suas próprias mãos, e recebia todos com braços abertos e coração aquecido.
Amava a casa cheia, o som das conversas, o calor das pessoas reunidas. Sempre ficava envergonhada ao ganhar presentes, dizendo que não precisava de nada e que “era melhor ter comprado algo pra você, minha filha.”
Dona Zélia costurava todos os vestidos que usava. Sempre com botão na frente e fita na cintura. Os vestidos mais bonitos eram para ir ao médico. Era sempre um evento.
A linguagem de amor da família nunca foi de toques ou palavras afetuosas, mas Hannah se esforçava pra romper essa barreira.
Fazia questão de abraçar sua avó, apertando sua cabecinha branca contra o peito, e dizendo repetidamente que a amava e que ela sempre poderia contar com ela. E sua avó acreditava nisso.
Quando ficou mais velha, Hannah mudou de cidade pra estudar. A saudade passou a ser constante. Os abraços se tornaram raros, reservados para as férias e os feriados.
Nas conversas por vídeo chamada, Dona Zélia sempre dizia que sentia saudades e que estava rezando pela neta. Ela respondia que também estava rezando por ela.
Com essas trocas, Hannah aprendeu coisas que não aprenderia em anos de estudo.
Aprendeu a perdoar, porque o tempo passa e “fica tudo por aí”. Aprendeu que dinheiro não importa tanto quanto falam, e que não existe bem mais precioso do que o tempo de qualidade com quem a gente ama.
Aprendeu também a roer as unhas quando fica ansiosa. E que a melhor combinação do mundo é queijo com goiabada. E a segunda é frango com quiabo e angu.
Dona Zélia também a ensinou a ser mulher e a ser forte. Contava a história de sua vida sofrida com muita leveza e naturalidade. Não tinha remorso ou revolta por nada que havia passado.
Apenas vivia a realidade, como ela se apresentava. Sempre fez por todos sem esperar nada em troca, assim como o cuidado com suas flores.
Com o passar dos anos, mesmo nos seus momentos de pouca lucidez, Dona Zélia sempre arrumava uma forma de se comunicar com a Hannah. Nem sempre lembrava seu nome, mas sabia que era ela.
Seu único e mais significativo bem, deu de presente pra neta. Sua máquina de costura. Hannah prometeu que aprenderia a costurar para poder usá-la.
Infelizmente, sua avó não conseguiu ensinar a tempo. Escolheu se despedir no dia 05/07, dia do aniversário da Hannah.
Na hora que a saudade aperta, ela escuta a música Pietá, do Milton Nascimento, e canta em voz alta: “guardo teu olhar comigo; tenho teu manto abrigo; vem me amparar, vem me trazer; a voz que pode me socorrer”.
Foi — e ainda é — difícil aceitar a perda, mas Hannah é profundamente grata pela oportunidade de viver e experimentar sensações que só a sua avó poderia lhe proporcionar.
Ainda bem que, tão jovem, ela aprendeu a importância e o poder de uma boa conversa. Sempre esteve atenta às histórias e inquietações da sua avó, que a ensinaram muito.
Ficou curioso pra conhecer a Hannah e a Dona Zélia? Elas já apareceram no nosso Instagram. 🧸
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Sunday Funday 🍷
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(Imagem: VSCO)
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Paquerar a vida
EXTRA
(Imagem: Enter the Void)
Paquerar é uma prática relacionada ao início das relações, quando as pessoas “ainda estão se conhecendo”. É como se fosse uma preliminar de um vínculo que poderá se tornar “sério”.
Neste momento, as palavras e todos os demais contatos vão sendo experimentados e inventados, vamos descobrindo que sensações nos trazem. Ao vocabulário prévio de cada um, um outro se constrói.
É comum haver um certo receio carinhoso no modo de falar e de se aproximar, afinal, ainda não se sabe. E é quando acreditamos já saber e conhecer tudo sobre o outro que a paquera vai diminuindo.
Talvez por isso seja tão frequente que relações mais antigas tenham ciúme das mais recentes: acreditam que nestas há algo novo que nelas já não haveria mais.
No entanto, se reconhecemos que nunca terminamos de conhecer alguém e que o tempo pode ser sempre começo, então a paquera não precisa ser só uma etapa, mas parte do próprio caminho.
Que sejam os primeiros meses, os primeiros dez anos, a primeira vida é a única que temos.
Quando usamos a paquera como um método para nos relacionarmos com a vida, com nossos interesses, com os lugares onde vivemos, podemos perceber que nem todo novo encanto precisa ser inédito.
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A próxima pode ser a sua 💌
FINAL NOTES
Gostou da história que leu? A próxima pode ser a sua. Conte pra gente aquela história de amor que só você sabe e tem dentro de si. Afinal, todo mundo tem a sua.
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Queremos compartilhar, pelo menos um pouquinho, desse sentimento que você tem aí dentro. Você nunca sabe o que ele pode provocar nas pessoas…
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