não quero ser feliz

domingo: 14 de setembro: como já dizia contardo calligaris, "não quero ser feliz. quero é ter uma vida interessante."

não quero ser feliz

como já dizia Contardo Calligaris: “não quero ser feliz, quero é ter uma vida interessante.”

Para entrar no clima da história, a dica é ler a edição dando play nesta música aqui. 🍝❤️

FIRST THINGS FIRST

Vida interessante

(Imagem: Pinterest)

Não quero ser feliz. Quero é ter uma vida interessante

Contardo Calligaris

Em uma entrevista, o psicanalista Contardo Calligaris afirmou: “o fato de que você pode desejar muito um homem, uma mulher, um carro, um relógio, uma joia ou uma viagem não tem relevância. No dia em que você tiver aquele homem, aquela mulher, aquele carro, aquele relógio, aquela joia ou aquela viagem, se dará conta de que está na hora de desejar outra coisa.”

Assim, defendendo que o nosso desejo nunca se esgota, Calligaris afirmou: “costumo dizer que não quero ser feliz.. Quero é ter uma vida interessante.”

Mas, o que seria essa tal vida interessante? Para o psicanalista, significa viver plenamente — o que inclui pequenos prazeres, mas também grandes dores.

Ter uma vida interessante pressupõe a capacidade de se desesperar ao perder algo que é muito importante para você. É sentir plenamente as dores das perdas, do luto e do fracasso.

  • Muita gente acredita que a felicidade seja como um destino final, um estado perfeito e sem falhas.

É aquela ideia de que você ficará em paz quando encontrar o amor verdadeiro e o emprego dos sonhos. Que você será feliz ao comprar um carro e financiar um apartamento.

Mas, como o nosso desejo nunca se esgota, talvez a tal vida interessante seja aquela em movimento, cheia de altos e baixos, tropeços e falhas. Cheia de curiosidade.

Em vez de buscar permanentemente essa ideia estática de felicidade, talvez seja melhor procurar tornar interessante a nossa rotina diária.

E isso só é possível quando temos simpatia pela vida e pelos outros. Quando nos interessamos verdadeiramente pelas pessoas, pelos lugares e pelos sentimentos. Quando olhamos para o mundo com desejo de aprender.

Mais do que conquistar títulos e seguir padrões, ser feliz é ser de verdade. Como já dizia Clarice Lispector: “mas há a vida que é para ser intensamente vivida. Há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata.”

BASEADO EM UMA HISTÓRIA REAL

Viajar é mudar o cenário da solidão

(Imagem: Call Me By Your Name)

Em 2023, a vida de Joaquim estava de cabeça para baixo. Após levar um pé na bunda, ele mergulhou em semanas de silêncio, atravessando dias que pareciam intermináveis.

O trabalho já não o motivava; os amigos não conseguiam arrancar dele mais do que um sorriso forçado, e até as pequenas rotinas — o café da manhã, a caminhada até o escritório — perderam o brilho.

  • Joaquim, que sempre se orgulhara de ser racional, discreto e controlado, agora se via afogado em uma infelicidade que não sabia como contornar.

Foi então que decidiu, quase por impulso, passar as férias na Itália. Tinha um dinheiro guardado há meses: o plano era usá-lo para alugar um apartamento maior e, finalmente, morar junto com o ex.

Mas, diante do fim, resolveu transformar aquela economia em algo só dele — uma viagem para longe, como se mudar de cenário também fosse uma forma de mudar de pele.

Talvez o mar, a comida ou simplesmente a distância pudessem lhe devolver algo de si mesmo. No fundo, ele sabia: poucas coisas no mundo não se resolvem com uma taça de vinho e um bom carboidrato.

Mario Quintana dizia que “viajar é mudar o cenário da solidão”, mas, nos primeiros dias em Roma, Joaquim se sentiu mais estrangeiro dentro de si do que no país.

Caminhava entre fontes, ruínas e ruas cheias de vida, mas carregava um peso que o impedia de se encantar de verdade. À noite, sentia-se mais solitário do que nunca — como se todos ao redor soubessem celebrar a vida, menos ele.

  • Mas, pouco a pouco, a cidade começou a fissurar sua armadura. Joaquim deletou o Instagram e decidiu realmente viver o presente de verdade.

O sabor de um tiramisù improvisado em uma trattoria, o som de um violino ecoando na Piazza Navona e as conversas animadas em uma língua que ele ainda não entendia direito — tudo parecia cutucar algo adormecido dentro dele.

Joaquim começou a andar sem pressa, a se perder de propósito nas vielas, a se permitir observar sem a necessidade de controlar. Foi justamente em uma dessas andanças que ele conheceu Lorenzo.

Estava tentando pedir um café em um balcão apertado, misturando gestos e palavras mal pronunciadas em italiano, quando um homem ao lado interveio, traduzindo sua confusão com naturalidade.

  • Un caffè per lui, ma forte, che sembra precisar — disse Lorenzo ao garçom, num tom que misturava humor e cuidado. Joaquim riu.

Lorenzo era guia turístico nas horas vagas, mas dizia que sua verdadeira profissão era “viver de encontros”. Morava em um pequeno apartamento perto do rio, adorava cozinhar e carregava um caderno onde anotava frases soltas.

Tinha trinta e poucos anos, um jeito expansivo de gesticular e uma calma estranha no olhar, como se nada no mundo fosse urgente demais.

Naquele café improvisado, a conversa fluiu naturalmente. Lorenzo quis saber de onde vinha Joaquim, o que o trouxera até Roma e se acreditava no acaso.

Joaquim, que nunca se considerou bom em falar de si, percebeu que com ele as palavras vinham facilmente.

Contou do término recente, da decisão de viajar com o dinheiro que seria para morar com o ex e até riu de si mesmo ao dizer que esperava que carboidratos e vinho pudessem curar um coração partido.

Com Lorenzo, Joaquim pegou uma Vespa sem destino, entrou em bares no meio de vielas e provou vinhos que nunca teria escolhido sozinho. Cada gesto ao lado dele parecia um convite para desaprender o controle.

  • Ao fim da viagem, Joaquim não sabia ao certo se o que sentia era amor ou apenas uma revelação sobre si mesmo.

O que sabia é que, em meio às ruas da Itália, aprendeu que a vida podia ser menos rígida e mais intensa. E que, às vezes, um coração partido é apenas o início de uma nova perspectiva.

Na despedida, prometeram manter contato e o fizeram, mesmo que de forma irregular: mensagens trocadas no fuso horário caótico, fotos de almoços improvisados e pequenos relatos de um dia comum.

Um ano depois, chegou a notícia: Lorenzo havia morrido em um acidente de moto na Toscana. Joaquim releu a mensagem várias vezes, tentando encontrar um erro ou um detalhe que mudasse o sentido.

Mas não havia nada. Ele realmente tinha ido embora. Nesse dia, o mundo ficou mais sem graça, mais nublado e com menos sentido.

Joaquim precisou de um ano para processar tudo — e colocar essa história no papel. É que cada palavra parecia menos do que Lorenzo merecia.

  • Ainda assim, com o tempo, ele aprendeu a olhar essa história sem a dor crua da ausência.

Joaquim agora entendia que aquele italiano de gestos largos e frases improvisadas lhe deixara um presente raro: a certeza de que a vida não precisa ser feliz para valer a pena — mas precisa ser interessante.

Sempre que pensa em Lorenzo, Joaquim assiste este filme. Segundo ele, é como reviver esse amor novamente. ❤️

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(Imagem: Tumblr)

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(Imagem: We Heart It)

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CARTA ABERTA

A corrida foi boa

(Imagem: VSCO)

"Das várias formas possíveis de infelicidade, a que me parece mais aflitiva não é necessariamente a que mais dói. Muito mais trágico me parece o destino de quem atravessa a vida sem se molhar, como se os efeitos (felizes ou nefastos) escorressem sobre a pele como água sobre as plumas de um pato. Com seus altos e baixos, imagine nossa vida como uma breve passagem por um circuito de montanhas-russas. Quem atravessasse a experiência anestesiado, sem gritos, pavor e risos, teria jogado fora o dinheiro do bilhete. Tenho a ambição, ao contrário, de ajudar meus pacientes a viver de tal forma que, chegando o fim, eles possam dizer-se que a corrida foi boa".

- Contardo Calligaris

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