o amor é urgente

"se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz."

o amor é urgente

“se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. quando mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz.”

Pra entrar no clima da história, o Gabriel falou que é pra escutar essa música aqui. 🥹

Cheganças
FIRST THINGS FIRST

(GIF: Anora)

"Se soubesse como gosto das suas cheganças, você chegaria correndo todo dia."

- Chico Buarque

Quando Chico Buarque usa a palavra “cheganças”, ele não fala apenas de uma simples chegada, mas de um ato quase ritualístico, carregado de expectativa e desejo.

  • É como se cada chegada do outro fosse uma pequena obra de arte, única e esperada.

E aí, abrimos espaço para o sentimento já descrito por Antoine de Saint-Exupéry: se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz.

A poesia de Chico, então, não se limita ao sentido direto, mas carrega em si uma metáfora da urgência do amor.

Dizer que você “chegaria correndo todo dia” reforça essa ideia de que o amor exige uma presença constante e com pressa, como se o tempo fosse sempre escasso pra quem está apaixonado.

  • Assim, a velocidade dessa chegada é a urgência de estar junto, de romper a distância que separa.

Por outro lado, a frase “se soubesse” carrega um pouco de melancolia, de algo que não se sabe e, por isso, nem sempre se concretiza. É a junção do desejo e da distância, do querer e do não saber.

Se esse outro soubesse o quanto sua presença é ansiada, ele não hesitaria, não demoraria e chegaria correndo. Mas essa dúvida é a dor sutil que acompanha a alegria do encontro.

E, no final das contas, o amor é uma poesia que abraça o contraditório. Que tem urgência de proximidade, mas sabe que a distância é inevitável. Que oscila entre o prazer da espera e a dor do não saber.

Amar é ter vontade de se perder e se encontrar, de se ter e se dar. E mesmo que o amor urgente nos arraste para a beira do abismo, ele também nos ensina a saltar, a viver no instante — e a chegar correndo todo dia.

Olhe pra você…
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Tudo vai dar certo
BASEADO EM UMA HISTÓRIA REAL

(Imagem: VSCO)

A Gabriela escreveu essa história no dia 6 de janeiro, a primeira segunda-feira de 2025. Desde o dia 3 de janeiro, ela está tentando encontrar as melhores palavras pra dançarem nesse teclado.

Palavras que formem uma coreografia única, pra descrever o que acontece quando dois corpos cheios de afeto se encontram.

Enquanto ignora uma caixa de bueiro entupida no quintal e escuta Sirens, do Pearl Jam, a Gabriela encontra o tom pra contar essa história.

Porque talvez, lá no fundo, ela desconfia que sempre precisa ir no mais profundo do abismo para poder olhar pra cima e ver uma bailarina dançando — e perceber que um movimento, mesmo sutil e vagaroso, ainda é um movimento.

  • Entre Tinder e Happn, foi no Bumble que ela deu Match com o Gabriel, seu xará. Eles conversaram, primeiro, pelas descrições dos seus perfis do aplicativo.

Gabriel se descrevia do jeitinho que a interessava: de férias pelo Brasil. Bora se conhecer, amizade ou o que rolar.

Encantado de viajar y conocer nuevas culturas del mundo. Me gusta concetar con personas a los que les guste hablar. Podemos hablar de lo más profundo o de cual teoría conspirativa crees tu. O crees que todo es verdade?

Já a Gabriela se descrevia como uma virginiana que não entende de signos, vive de ressaca literária, borda uns quadros, pinta a vida, grava e edita uns vídeos, amante de food porn e faz arte até no céu.

Odeia conversa tipo entrevista, tem medo de morcego e nunca gostou das princesas da Disney. É viciada em chegar em casa.

  • Quando viu o match, logo mandou mensagem: meu xará! De férias no Brasil e em Franca, no interior de São Paulo?

Não demorou muito e ainda naquela noite, Gabriel respondeu. Atento à premissa “odeia conversa tipo entrevista”, perguntou: se você tem medo de morcego, então também tem medo do Batman?

Dali pra frente, a conversa fluiria, como uma bailarina deslizando pelos palcos da vida, como se os dois se conhecessem há séculos.

Na última hora do último dia de 2024, eles começaram a conversar no WhatsApp. Ainda no Bumble, Gabriel perguntou quando eles poderiam se encontrar. Ela sugeriu no dia 1 de janeiro.

Ele disse que iria embora dia 2, então esse era o único dia possível mesmo. Sabendo do prazo justíssimo, os dois já começaram a saga de achar um lugar aberto à noite, naquele dia.

  • Às 20h06, Gabriel chegou. Junto dele, alguma coisa nova e desconhecida também chegava na Gabriela.

Passaram as horas seguintes imersos em afetos e conversas, como se já tivessem dividido algum palco da vida. Fato é que, mesmo ciente de que aquele seria o primeiro e último encontro, Gabriela estava de coração aberto.

Conforme as horas foram acabando, as bocas não se desencontraram. Elas não queriam se despedir. Cada beijo dado como o último, tornava-se o penúltimo, antepenúltimo e assim sucessivamente.

Mas o beijo da despedida precisou acontecer. Tarde da madrugada, Gabriela foi embora sem saber como trabalharia nas próximas horas.

Ela foi embora, quase despedaçada por saber que ali era o primeiro e último encontro. Foi embora, ciente que, depois de cinco anos, era a primeira vez que o Gabriel vinha ao Brasil.

Foi embora, com a sensação de que o match iria muito além do aplicativo. Foi embora, completamente apaixonada pelo sotaque único de quem fala português, alemão, espanhol, arrisca no francês e entende a sua língua.

  • Foi embora com vontade de ficar. Foi embora, com gosto de afeto na boca, e um sabor amargo de saudade no coração.

Acordou no outro dia com ressaca da vida. Essa vida que vinha num descompasso de afetos, de desencontros, de caos, de “deixar experimentar a felicidade e no dia seguinte roubar.”

Naquela quinta-feira, dia 2 de janeiro, a Gabriela acordou sabendo que o seu xará, às 13:30, embarcaria pra Juiz de Fora. Pelo menos era o que a passagem comprada dizia.

Porém, como numa espécie de solavanco, ela leu a notificação: eu mudei minha passagem pra amanhã pensando que, se você quiser, a gente pode se encontrar hoje. Sem pressa e com tempo.

Nos relacionamentos anteriores, a Gabriela sempre foi o Gabriel. A pessoa que dava um jeito, que ficava. Mudava e refazia os planos pelo pleno prazer de passar mais algumas horas ao lado da felicidade.

  • Ela ficava porque sentia muito. E com esse seu jeito, desde cedo, Gabriela aprendeu a lidar com os gostos amargos da vida.

Voltando ao dia dois de janeiro, enquanto estava no trabalho, eles decidiram que o date parte 2 seria no apartamento dela. Antes de chegar, ela passou no mercado e comprou guaraná zero pra ele, e coca-cola pra ela.

Enquanto a noite começava a cair, Gabriel chegou. Antes de abrir o portão, Gabriela teve a sensação daquilo que Chico Buarque um dia escrevera: se soubesse como gosto das suas cheganças, você chegaria correndo todo dia.

Passaram a noite imersos em paixão, afagos, conversas e, principalmente, um dentro do outro. Passaram a noite descobrindo que a vida é a arte do encontro, como diria Vinicius de Moraes.

Ao som de The Killers, deitados no sofá, o Gabriel falou: fecha os seus olhos, mas você não pode abrir, só a hora que eu falar pra abrir. Eu acredito numa coisa na vida que é sempre visualizar as coisas que temos vontade de fazer ou lugares que temos vontade de ir.

Quando eu queria morar em Berlim, eu me via lá, fiz várias coisas pra visualizar que eu estaria lá, por exemplo, coloquei uma foto de lá na tela de fundo do meu celular, colei uma imagem na parede, escrevia na parede, no guarda-roupa, enfim. Como eu acredito muito nisso, resolvi te dar uma coisa p/ ser o primeiro objeto a te ajudar nisso. Ontem, você comentou que gostaria de conhecer a França. Espero que, a partir de agora, você possa sempre visualizar esse objeto e se ver lá. Em Paris, tem o louvre, notre-dame, arco do triunfo, mas tem um que é o símbolo de paris. Qual que é?

A Gabriela respondeu que era a torre, e ainda brincou: aquele lugar horroroso. Ele continuou: exatamente, a torre Eiffel. Então, a partir de agora, que você possa sempre se visualizar lá. Imagine que você está bem no alto dela, visualizando a cidade toda, jantando até em um restaurante dentro dela, aliás, quem sabe não possamos estar juntos lá? Pode abrir os olhos.

  • Ela abriu os olhos, e viu um chaveiro da torre Eiffel. A verdade, por dentro das entranhas da alma, foi que ele lhe deu muito mais do que um chaveiro.

Ele a ajudou a se reconectar com uma Gabriela que estava em descompasso. Com ele, em algumas horas, ela aprendeu que não dá pra criar memórias com a rotina. É preciso sair dela para irromper uma nova memória.

Se a gente faz tudo igual, não fica marcado. Mas, se a gente faz um passo novo, pronto, uma nova memória nasceu. E ali, em plena quinta-feira, no segundo dia do ano, ela estava criando uma memória.

No dia seguinte, sob uma manhã nublada e chuvosa, antes das 7 da manhã, a despedida aconteceu. Depois de sair do apartamento, Gabriel mandou esse link no WhatsApp dela.

A caminho do trabalho, Gabriela colocou a música pra ouvir. Chorou. Chorou e não sabia se molhava mais dentro do carro ou fora dele. Ou como diria Lulu Santos: foi mais profundo por você. Fez chorar, mas fez chover.

Nesse momento, enquanto escreve sobre memórias e despedidas, Gabriela está bebendo o guaraná zero, que ficou na geladeira. Agora lhe resta, quem sabe, esperar a estrela d’Alva cruzar no céu, o vento certo soprar no mar e tudo dar certo.

Enquanto isso, seu xará chega a Belo Horizonte, sua última parada no Brasil. Na próxima sexta, dia 10, Gabriel voltará pra Espanha.

Criando novas memórias

ENQUETE DO THE STORIES

(Imagem: Pinterest)

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(Imagem: We Heart It)

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Pela licença divórcio na CLT

CARTA ABERTA

(Imagem: Sex and the City)

Acordei, tomei banho e tentei engolir algum café da manhã. Tentamos conversar normalmente, e eu saí chorando. Dirigi até o trabalho, acompanhei uma pauta, sorri e desejei bom dia a todos. Perguntei para minha colega se estava muito inchada, ela negou.

Tenho algumas tarefas a cumprir, mas minha cabeça não funciona. Não tem nada diferente. Ninguém seria capaz de notar. Não tem um bilhete na minha testa dizendo: terminou o relacionamento de 17 anos. Deveria ter. Igual os carros de recém-casados, enfeitados e barulhentos. Um post-it na testa avisando para todos saberem que a gente dormiu chorando e que não faz ideia do que fazer da vida.

A única coisa que poderia denunciar o estrago ainda está ali no anelar esquerdo. Dourada, com nossas iniciais e a data do nosso primeiro beijo. Se eu tirar, ainda vai estar ali. Faz 10 anos que ela marca minha pele, faz parte da minha mão. Não sei mais o que eu vou fazer quando ficar nervosa já que eu sempre mexia nela. Era meu sinal de tensão.

Eu sei que estou de luto, que ele tem fases, e que vai passar. Mas quando? Como? Quando a gente perde alguém para a morte, a lei nos dá direito a alguns dias fora do mundo. E quando a pessoa continua viva? Quando o que morreu foi uma vida conjunta, os sonhos e os planos, o tesão, o amor romântico? A gente sorri e dá bom dia?

Quando a gente casa também. Cinco dias de licença casamento, previsto na CLT. Estaria na hora pensar na licença divórcio?

G.

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