olhos de ressaca

domingo: 19 de outubro: há amores que não precisam durar para serem eternos. alguns vivem apenas o tempo de um filme — mas continuam passando, dentro da gente, como uma cena que nunca acaba.

olhos de ressaca

há amores que não precisam durar para serem eternos. alguns vivem apenas o tempo de um filme — mas continuam passando dentro de nós, como uma cena que nunca acaba.

Para entrar no clima da edição, a dica é começar a ler escutando essa música aqui. ❤️‍🩹

FIRST THINGS FIRST

Sinto sua falta

(Imagem: The Godfather II)

“Querida Di, estou me sentindo desconfortavelmente sozinho há mais tempo do que me sinto há muitas, muitas luas. Não sei por que. Talvez seja por estar em um país estrangeiro e não conseguir falar a língua; pode-se dizer que esse é um dos motivos. Mas principalmente por estar longe de você e do que temos juntos. Enquanto escrevo esta carta, estou sentado em um café em Roma, chovendo torrencialmente. Estou olhando para uma linda praça com uma igreja, falando sozinho. Estou com as mãos cruzadas como se estivesse rezando. Mas no meio das minhas mãos está um pequeno gravador. Parece que estou falando com os meus dedos. É assim que parece. Se ao menos eu pudesse ditar esta carta sem mexer os lábios. Só estou tentando dizer que sinto sua falta, querida. De uma forma meio indireta, ao que parece. Entrarei em contato com você. Com amor, Al.”

Mais de três décadas depois do fim do relacionamento entre os atores Al Pacino e Diane Keaton, surgiu uma carta escrita pelo ator em 1989, relembrando uma das histórias de amor mais emblemáticas de Hollywood.

A atriz faleceu no último sábado, e uma reportagem no Daily Mail revelou que Al Pacino confessou para um amigo próximo que ela foi o grande amor da sua vida.

Voltando um pouco no tempo, a história dos dois é uma daquelas que parecem saída de um filme — e, de certo modo, foi mesmo.

  • Eles se conheceram durante as filmagens de O Poderoso Chefão (1972), quando ela interpretava Kay Adams, a esposa de Michael Corleone, vivido por Pacino.

Na época, Keaton já era uma atriz de teatro e começava a se destacar em Hollywood; Pacino ainda era um nome em ascensão.

O clima entre eles começou nos bastidores: Diane disse que se apaixonou por ele à primeira vista“ele era tão misterioso quanto o amor que senti por ele no momento em que vi seu rosto.”

Eles viveram um relacionamento marcado por idas e vindas ao longo dos anos 1970 e início dos 1980 — uma relação que oscilava entre o amor, a admiração artística e as dificuldades de lidar com personalidades tão diferentes.

Em entrevistas, Diane disse que foi ela quem insistia mais no relacionamento — chegou até a dar um ultimato, dizendo que queria casar ou terminar. Pacino não quis se casar, e eles se separaram de vez pouco antes das filmagens de O Poderoso Chefão III.

  • Mesmo depois do fim, continuaram admirando um ao outro e mantiveram uma forte conexão e respeito mútuo.

Nenhum dos dois se casou, e ela já chegou a dizer: “Ele foi o amor da minha vida. Nunca conheci ninguém como ele.”

Já Al Pacino fez a seguinte declaração: “Ela queria um lar. Eu não conseguia nem abrir a porta. Eu achava que a solidão era o combustível da arte, até que seus passos se apagaram e percebi que estava guardando um armazém vazio, tão oco que nem ecoava. Anos depois, ela escreveu em suas memórias: “Ele não precisava de mim”. Aquela mulher sempre protegeu meu orgulho. Mas a verdade é que eu precisava dela. Tanto que não conseguia dizer em voz alta.”

Em Hollywood ou na vida real, há amores que não precisam durar para serem eternos. Alguns vivem apenas o tempo de um filme — mas continuam passando dentro da gente, como uma cena que nunca acaba.

BASEADO EM UMA HISTÓRIA REAL

Não vai durar

(Imagem: VSCO)

Eduardo nunca quis se casar. Na verdade, ele dizia que pensava no casamento como um possível plano distante. Talvez aconteça; talvez não.

  • Teve alguns relacionamentos longos; outros não tão longos assim. Viveu paixões intensas e dedicou-se arduamente ao trabalho.

E foi em uma viagem a trabalho que conheceu Vanessa. Ela era morena, com a pele levemente bronzeada e um cabelo castanho escuro que caía em ondas suaves até os ombros.

Mas o que mais chamava atenção eram seus olhos: um verde profundo, quase hipnótico, que lembrava os famosos “olhos de ressaca” de Capitu, de Dom Casmurro.

Havia neles uma mistura de curiosidade e intensidade, uma profundidade que parecia puxar quem olhasse para dentro de si, revelando e escondendo ao mesmo tempo.

Em um primeiro encontro, Eduardo percebeu que havia algo raro nela: um magnetismo quase literário, capaz de prender a atenção e despertar curiosidade sem esforço.

Ao contrário dele, Vanessa sempre sonhou em se casar — e deixou isso claro já no início.

Mas como havia uma distância separando os dois, essa incompatibilidade não foi um problema. Decidiram aproveitar a companhia um do outro, sem pensar no dia de amanhã.

  • No Rio de Janeiro, viveram cada instante como se o tempo fosse deles. Aquela sensação de estar no lugar certo e na hora certa.

Caminharam pela orla de Copacabana, sentindo a brisa do mar e inventando histórias sobre desconhecidos na rua.

Eduardo, normalmente reservado, deixou-se levar pelas conversas leves de Vanessa, que falava com entusiasmo sobre pequenos detalhes da cidade: as cores das barracas na praia ou o cheiro de pão recém-saído do forno nas padarias.

Subiram ao Cristo Redentor numa tarde de céu claro. Até hoje, Eduardo se arrepende de não ter tirado nenhuma foto desse momento, mas já comprou uma câmera analógica para corrigir esse erro do passado.

À noite, percorreram as ruas da Lapa, entre arcos iluminados e bares com música ao vivo. Descobriram a cidade através dos sentidos.

Ele lembra que os dois se beijaram ao som de “Água de Chuva no Mar”, e a chuva caiu logo em seguida. O clichê era real.“Caminha pro mesmo lugar. Sem pressa, sem medo de errar. É tão bonito o nosso amor.”

  • Eduardo lembra de abraçar Vanessa e pensar que poderia sentir seu cheiro por toda vida. Era “coisa de pele” mesmo, como já dizia Arlindo Cruz.

A ideia era não manter contato, mas as conversas fluíam naturalmente. Ficaram um ano na ponte aérea entre São Paulo e Rio de Janeiro, com algumas viagens inusitadas no meio do caminho.

Foram para Paraty, São Miguel dos Milagres e Buenos Aires. Assistiram vários filmes do Goddard e do Truffaut. Conheceram vários restaurantes e foram pra várias rodas de samba.

Mas Eduardo não conseguia dar um próximo passo. Vivia momentos incríveis com ela, mas depois esfriava. E aí voltava novamente, pedia desculpas e combinava outra viagem.

Ficaram nesse vai e vem por um tempo, mas Vanessa queria mais. Eduardo não conseguia dar mais.

Ela começou sabendo que aquilo ali não iria pra frente, mas algo a fez ficar. Não era racional, nem um cálculo de prazer ou segurança — era algo que escapava à consciência, algo que a própria linguagem lutava para nomear.

Mas quando Vanessa finalmente decidiu acabar com tudo, foi para valer. Não houve hesitação, nem tempo para dúvidas. Ela falou de forma calma, firme e sem acusações.

  • Eduardo garantiu que dessa vez seria diferente, mas era tarde demais. Vanessa não aguentava mais.

Eles romperam o relacionamento de vez, mas se tornaram bons amigos. Ela se casou e teve dois filhos. Eduardo teve alguns outros relacionamentos, mas não colocou aliança no dedo.

Ele ouviu em algum lugar que “quando a gente é jovem, acreditamos que iremos nos conectar com muitas pessoas na vida. Mais tarde, percebemos que isso só acontece algumas vezes.”

O mais irônico disso tudo é que, apesar de sempre ter sido cético quanto ao amor duradouro, ele sabe que sempre vai amá-la. Ainda que esse amor se transforme. Ele sempre continuará ali.

Vanessa o perdoou mesmo sem o pedido de perdão. Mas, de todas as formas, ele queria dizer: “Desculpa, Vanessa. Por tudo que não consegui ser, por tudo que não pude te dar, por nunca ter sido capaz de ficar de verdade.”

ENQUETE DO THE STORIES

(Imagem: Vanilla Sky)

É possível amar alguém e ao mesmo tempo não querer se prender?

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(Imagem: L’Ami de mon Amie)

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CARTA ABERTA

Tênis ou frescobol

(Imagem: We Heart It)

Depois de muito meditar sobre o assunto, concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.

O tênis é um jogo feroz. Seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada – palavra muito sugestiva que indica seu objetivo sádico, que é cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar, porque o adversário foi colocado fora do jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza do outro.

O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la e não há ninguém derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra, pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir…

E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos. A bola são as nossas fantasias, irrealidade, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho para lá, sonho para cá. Sonho para lá, sonho para cá…

Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. O jogo de tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo como bolha de sabão. O que busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha, sempre perde.

Já no frescobol é diferente. O sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois sabe-se que, se é sonho é coisa delicada, do coração. Assim cresce o amor. Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então, que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim…

- Rubem Alves

RODAPÉ

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