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zelar por amor
domingo: 14 de dezembro: o tempo não conserva nada; quem conserva é o cuidado.

zelar pelo amor
o tempo não conserva nada; quem conserva é o cuidado.

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FIRST THINGS FIRST
Eu sei que vou te amar

(Imagem: VSCO)
Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente eu sei que vou te amar
E cada verso meu
Será
Pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa tua ausência me causou
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por Toda a minha vida
Composta em 1958, “Eu Sei que Vou Te Amar” é uma canção de Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Em 1986, ela inspirou o filme homônimo dirigido por Arnaldo Jabor.
Em tempos onde só se fala de amor próprio, “Eu Sei Que Vou Te Amar” sai da regra. Vinicius não tenta ser moderno, equilibrado ou maduro — ele se rende.
A força da letra está justamente neste amor quase absoluto que nem tenta parecer sensato. É um amor que aceita a própria vulnerabilidade como destino. Não há como fugir.
Criando um sentimento de tempo alongado — “por toda a minha vida” —, não é como se o eu lírico estivesse fazendo uma promessa; é mais como se ele soubesse que o amor não depende dele.
É por isso que ele sabe que vai chorar: “A cada ausência tua eu vou chorar. Mas cada volta tua há de apagar o que essa tua ausência me causou.”
Há um movimento circular de despedida e reencontro, ausência e volta, dor e apagamento de dor. Nada é definitivo, exceto o amor que persiste. O sofrimento aqui não é dramático; é um preço quase natural.
A música não romantiza a dor — ela a reconhece como consequência inevitável de um amor que é maior que a própria capacidade de se proteger.
Como já dizia Rubem Alves, “quem não suporta a dor da separação não está preparado para o amor. Porque o amor é algo que não se tem nunca. É evento de Graça. Aparece quando quer, e só nos resta ficar à espera.”
É claro que ninguém deve romantizar o que machuca, mas será que é possível amar sem correr o risco de sofrer?
No fim, a canção fala de um amor que não tenta ser leve, mas que é inteiro. Esse amor atravessa o tempo e carrega saudade, espera, intensidade e uma devoção que não precisa se explicar.
Finalizando com as palavras da Clarice Lispector: “amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.”
BASEADO EM UMA HISTÓRIA REAL
Eu amava o cheiro dela

(Imagem: Pinterest)
Seu Luís é zelador de um edifício antigo na Zona Sul do Rio de Janeiro. Trabalha lá há mais de 30 anos — e sabe o nome de todos os moradores.
Ele é o queridinho do prédio, mas ninguém sabe muito sobre ele. Seu Luís até que é falante, mas as pessoas costumam perguntar pouco, né? A maioria apenas dá “bom dia” e “boa noite”.
Com a Fernanda, porém, a relação era diferente. Seus pais mudaram-se para o prédio quando ela tinha 4 anos de idade — e Luís acompanhou todas as fases da sua vida.
As primeiras notas vermelhas do Boletim, o primeiro braço quebrado e o primeiro coração partido. Seus pais viajavam muito — e seu Luís ajudava Fernanda até na lição de Matemática.
Ela crescia e ele ia descobrindo suas manias quase sem perceber: sabia quando ela estudava demais, pois o lixo aparecia cheio de tampinhas de caneta mordidas, e sabia quando estava triste, pois deixava o tênis jogado no corredor.
Quando ela teve o primeiro namorado, foi quase natural que desabafasse com ele. Não porque Luís perguntasse — jamais o fez —, mas porque ele tinha aquele jeito de ouvir que não apressa ninguém.
Fernanda falava, falava, falava… e ele seguia ali, como se acompanhar as fases de uma menina fosse só mais uma parte do trabalho.
Um dia, num desses desabafos adolescentes sobre mensagens não respondidas, Fernanda percebeu a aliança grossa na mão dele. Ela a tinha visto antes, claro, mas nunca perguntou.
Seu Luís... e sua mulher? Ela mora aqui com o senhor? — perguntou com a espontaneidade de quem ainda não aprendeu a temer certas perguntas.
Ele parou lentamente, segurando o saco de lixo que ia trocar. Não foi um silêncio pesado; foi mais aquela pausa de quem decide se conta uma história ou deixa guardada.
Morou comigo muitos anos, sim — disse —. Mas partiu cedo, muito cedo.
Fernanda arregalou os olhos, sem saber se pedia desculpas ou continuava. Luís sorriu um sorriso breve, como quem tenta tranquilizar. Aquele homem guardava um mundo que ninguém do prédio conhecia.
Ajeitando a lixeira, Luís contou que conheceu Heloísa num ponto de ônibus. Estava chovendo, e ela perguntou se ele tinha um trocado. Segundo ele, “ela era uma dessas pessoas que começam a falar antes mesmo de você olhar.”
Luís disse que, naquele segundo, já sabia que era ela. O resto foi só confirmação, aquele amor que a gente sabe que vai acontecer.
Ele contou que se casaram jovens e que moravam num apartamento pequeno, onde quase tudo era improvisado — menos o afeto.
Disse que amava o cheiro dela — e que esse é o jeito mais fácil de saber se a gente ama uma pessoa: “Quando a reconhece de olhos fechados. Quando o cheiro dela fica na camisa, na casa, nos dias.”
Sonhavam em ter um filho. Ele falava em ensinar-lhe a andar de bicicleta; ela insistia que seria professora, como ela.
Mas o tempo, às vezes, é menos generoso do que deveria. A gravidez nunca veio. E, quando Heloísa adoeceu, o sonho ficou guardado num canto onde ele já não mexia. Não tinha mais espaço.
Luís contou que nunca se envolveu com ninguém após ela partir. Não por amargura, mas por uma certeza tranquila: ou era ela, ou não seria ninguém. O pouco que viveram bastou para encher uma vida inteira.
Enquanto arrumava o saguão do edifício — e contava essa história — Luís parecia conversar com as paredes antigas.
Passava a mão por cada rachadura como quem reconhece o rosto de um velho amigo. Dizia que o prédio só permanecia de pé porque, todos os dias, alguém voltava para cuidar, reparar e insistir.
Cuidado, na sua cabeça, era repetição, paciência e presença. A lógica era simples: as coisas duram apenas enquanto encontram quem fique por perto.
Fernanda entendeu que ele falava do prédio, mas também de Heloísa. Da vida que sonharam e não tiveram. Do filho que nunca veio.
Do amor que resistia porque fora cultivado com a mesma disciplina com que ele, ano após ano, desentupia calhas, varria folhas do pátio e sabia o nome de cada morador.
Pensou então que Luís, sem jamais ter dito, carregava dentro de si uma lição silenciosa: o mundo anda rápido demais, as pessoas largam tudo cedo, e quase ninguém cultiva nada.
E, mesmo assim, ele continuava ali, gentil, atento e disposto a manter de pé o que ainda valia a pena.
Luís não era apenas o zelador do prédio onde Fernanda crescera; era o guardião das histórias que o tempo tentou apagar — as de todos, e principalmente a dele. Porque o tempo não conserva nada; quem conserva é o cuidado.
ENQUETE DO THE STORIES

(Imagem: VSCO)
Quem ama cuida? |
RESULTADO DA ÚLTIMA ENQUETE
80,30% de vocês (538 pessoas) votaram que “sim, vale insistir no amor enquanto houver vínculo".
Abaixo, uma resposta de destaque por opção:
→ (Sim, quando ainda existe vínculo) “Amor é escolha. Se planta, rega, poda o que não faz sentido de ambos os lados, ajusta e colhe o que foi plantado para começar o processo de novo, já que estamos sempre mudando junto com as estações, assim como as arvores... Tem que ter paciência. Por isso, a maioria dos relacionamentos hoje não dão certo. Não existe a resiliência e a paciência em esperar, muitas vezes, no tédio.”
→ (Não, amor não se força) “Na verdade, eu acho que depende. Há amores que valem a pena insistir, mas tudo tem limite. Às vezes, a gente já passou da linha do insistir no amor para ser inconveniente; em outras vezes, para ser besta, mas há, sim, outras em que é a escolha certa a se fazer.”
EDITOR’S PICK
Sunday’s Love 💋

(Imagem: We Heart It)
Aproveite o clima de amor, siga as nossas dicas e seja feliz! 🥰
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EXTRA
Alegria do reencontro

(Imagem: Tumblr)
Amamos uma pessoa pelas palavras que a ouvimos dizer, por vezes em silêncio. Mesmo quando se está “fazendo amor” – muito bom, prazer enorme no corpo. Até os bichos sabem disso e ficam alucinados quando o corpo berra. Mas logo se esquecem depois do prazer. Certo: às vezes também nós somos bichos. Mas o prazer (curto) se transforma em alegria quando além do prazer que o corpo sente, a alma ouve as palavras que moram dentro dos olhos: “Como é bom que você existe. O universo inteiro fica luminoso, por sua causa. Vou chorar quando você se for. Terei saudades. Ficarei com um pedaço arrancado de mim. Será triste. Tristeza que não abandonarei por nada, pois ela marca a sua presença, que se foi.”. Não, não é o prazer que se sente no corpo, é a alegria que se sente na alma. A gente se sente bonito. O outro é um espelho onde nos contemplamos, e nos seus olhos a nossa imagem se transfigura, e é como se fôssemos deuses. Não há prazer no corpo que resista a um espelho mau.
Mas, aí, sem que se saiba por que, a gota de chuva cai, o vento se vai, e ficamos de mãos vazias. E só nos resta esperar. Como esperamos que o ipê floresça de novo. As flores desapareceram, mas voltarão. Amor é isto: a dialética entre a alegria do encontro e a dor da separação. E neste espaço o amor só sobrevive graças a algo que se chama fidelidade: a espera do regresso. De alguma forma, a gota de chuva aparecerá de novo, o vento permitirá que velejemos de novo, mar afora. Morte e ressurreição. Na dialética do amor, a própria dialética do divino. Quem não pode suportar a dor da separação não está preparado para o amor. Porque o amor é algo que não se tem nunca. É evento de Graça. Aparece quando quer, e só nos resta ficar à espera. E quando ele volta a alegria volta com ele. E sentimos que valeu a pena suportar a dor da ausência, pela alegria do reencontro.
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RODAPÉ
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FINAL NOTES
Gostou da história que leu? A próxima pode ser a sua. Conte pra gente aquela história de amor que só você sabe e tem dentro de si. Afinal, todo mundo tem a sua.
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